quinta-feira, 14 de julho de 2011

PROVIDENCIA DIVINA


Já disse o quanto ela me “persegue”? Outro dia falei, ela não acreditou, parece paranóia, mas é verdade. Eu andava pela rua então vi o nome dela estampado nas costas da camisa do Corinthians. No outro dia havia, na vitrine de uma loja, a foto de uma modelo exibindo as “tendências da nova estação”, do lado o nome da modelo. BINGO!!!! O nome dela.
Eu contava estas coincidências enquanto ela comia Caqui, nunca vi graça no caqui. Ela comia aos montes, três, quatro de uma vez. “Nunca conheci alguém que gostasse tanto desta fruta”, falei. Ela disse que eu reclamo demais e que sou ingrato (acho que é o jeito de dizer ‘eu te amo’ que ela adotou), acho graça quando ela implica comigo, fica linda a minha briguenta...
Bem, passei a acreditar que a tal da coincidência não existe, depois de alguns acontecimentos na minha vida, acredito na providência divina. As pessoas que amamos nos marcam com as coisas mais simples e da forma mais inesperada. Meu pai, por exemplo, tem o péssimo hábito de fumar, parece loucura, o cheiro de cigarro me faz lembrar meu velho (eu não fumo e nem gosto de fumaça), o cheiro de alvejante lembra minha mãezinha. E assim acontece com a gente, um perfume, uma música e acreditem: Até o caqui.

Comecei em um novo trabalho (tenho dois agora, e ainda falam de desemprego), ainda não tenho uma sala e fico com meu notebook de um lado pro outro. Era sexta-feira, estava tenso com seleção de fotos,- se tem algo que me irrita no meu trabalho é selecionar fotos-, e ainda tem a legenda, título de matéria e tudo que uma boa montagem de matéria exige para ‘suavizar’ e agradar ao leitor.
Quando entra pela sala uma senhora com uma bandeja, divido em quatro sobre a bandeja ele, vermelho, suculento. Eis que mais uma vez a providência divina me tirou da tensão e me levou à lembrança dela: “o melhor lugar do mundo” . Aquele caqui na bandeja bem que podia estar com o recado: Oi ingrato! Porque na hora eu pensei: Eu também te amo!!

NOSTALGIA



Eu passeava pela Rua Paraná, a principal rua de comércio da cidade (pra ser honesto, a única). Estava distraído quando, de repente, uma música, que vinha de uma pequena caixa amplificada em uma loja do outro lado da rua, me fez parar, na verdade paralisei.
Não era nada especial, como aquelas músicas que nos marcam por ouvir ao lado de alguma garota. Mas o fato é que parei na rua, no tempo e no espaço.
Regressei a uma época que não voltará mais. “Air Suplly é bom né?”, disse uma senhora que passou por mim. “Pois é, mas só agora eu percebi”, respondi envergonhado. Levei 15 anos pra perceber. Quando essas lembranças chegam, ficamos meio bobos, a sensação é que eu estava sozinho em pleno centro – fim de mês, não tinha tanta gente assim -, não fosse pela senhora que percebeu meu ‘desligamento’ do mundo ao meu redor.
Nostalgicamente lembrei da adolescência, quando Mauro e eu, ficávamos sentados no tapete da sala de som ouvindo as fitas (lembra-se delas?). Eu não sei falar inglês e nem sei se Air Suplly é uma banda estadunidense ou inglesa. Ouço poucas músicas internacionais, prefiro nossas “coisas” às letras gringas que não entendo uma palavra. Mas a energia, as graças do Mauro e o carisma da música para juntar amigos era o que me fascinava.
Aquele som inesperado no meio da rua me levou pra um tempo que havia se perdido na memória. Os amigos se viam, fazíamos piadas inofensivas e a presença um dos outros era o que mais importava. Eu usava, nesse tempo, tênis xadrez e bermudas xadrez. Era completamente punk e feliz. Meu filho outro dia, viu uma dessas fotos e mandou: O papai ‘tá’ engraçado. Valia tudo por um sorriso alheio. A gente trocava cartinhas com as meninas e o futebol na quadra da escola tinha torcida empolgada (das meninas que recebiam as cartinhas).
A realidade é que é tudo nostalgia do tempo das descobertas. Pura nostalgia de uma época de rebeldia e inocência, que adormeceu ao som de Air Suplly.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

A LIÇÃO DA MORTE



Era 2007, dia de nossa senhora aparecida, o telefone tocou. Nanci do outro lado da linha, tinha a voz triste, 10:30 da noite a noticia. “O Nivaldo Morreu”, não havia muito que dizer.
Nivaldo era operador de som lá da rádio, calmo, brincalhão e meio ultrapassado (na cabeça dele). “Eu nunca vou aprender a lidar com computador”, frase dita por ele com a chegada da tecnologia na rádio. Um ‘boa praça’. Morto em um acidente em que o carro capotou, ele voltava de uma festa em que fazia um extra como DJ, morreu na hora.
Somos muitos ligados lá na emissora, é difícil não lembrar dele no dia 12 de outubro. Revendo as fotos bate uma saudade daquele velho.
2011 sábado 23:30. Telefone toca. Era o Fernando. Telefone fora de hora boa coisa não há de ser. “A mamãe da Nanci morreu”, era véspera do dia das mães, o enterro no dia das mães, choro e tristeza no dia das mães.
É muito ruim ver a cidade festejando e amigos sofrendo. Morrer em dia de comemoração devia ser proibido. O sofrimento parece que é maior. A tristeza parece que não passa.
No meu aniversário de 28 anos meu primo morreu, passei o aniversário velando aquele companheiro de piadas. Um câncer o matou em um mês.
Nanci voltou a trabalhar depois de três dias, choramos com ela.
Da minha sala olho o silêncio gritante que ela transmite, parece em contato intermitente com a mãe que, agora olha do céu. Ela voltou a trabalhar, mas não voltou de verdade. Falta a alegria, falta o sorriso. Mas ela vai voltar.
Viver cada momento da nossa vida como se fosse o ultimo, essa é a lição, porque o tempo passa e a única forma de manter vivas as pessoas que amamos é nunca esquecê-las, nunca deixar de amá-las.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

A LIÇÃO



Disseram-me uma vez que é preciso aprender com as coisas da vida, sejam elas boas ou ruins.
Pois é, as coisas pioram muito antes de melhorar, e a noite é sempre mais escura quando está para amanhecer...
Faz pouco tempo entendi que ser dono da verdade não é ser dono de ninguém.
Atrás do veneno daquelas palavras restava-me só o desespero de ver tudo mudar. Assim como todo mundo, eu tinha medo do novo.
A gente se acostuma com o cotidiano e faz de tudo, pra que tudo fique assim mesmo: inerte, imutável... Por segurança, por carência, conveniência e por medo de perder. E é por ter medo que a gente perde.

E o veneno daquelas palavras matou um coração e o esforço para ressuscitá-lo não me levou a lugar algum.
Por fim o coração ressurgiu, mas longe do meu lado. Bem longe!

Foi uma pacificação forçada que vivi até por não me restar alternativa. Sabe aquela sensação de não ter pra onde ir?
Não me restou muito, do que me pertence mesmo sobrou praticamente nada, foi um reinicio obrigatório. Como aprendizado a lição mais valiosa: jamais matar um coração de novo.
E o meu “recomeçar obrigatório” passou a ser cotidiano, com aquilo que me restou do fim. A cada dia uma oportunidade, uma chance de fazer direito desta vez, de fazer bem feito “só por hoje”.
A vida passa muito depressa e é preciso viver neste carrossel maluco.
“Não é vontade de mudar o mundo, mas se ele muda por minha causa, o azar é dele!!”