sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Capacidade de mudar (como as crianças)

Chego em casa, já é pouco mais da meia-noite. Minha esposa está deitada no quarto do meu filho, tentando o fazer dormir. Sem sono (e sem fome), vou para a cabaceira da cama e começo a ler MENINAS DA NOITE (um livro do jornalista Dimenstein que fala sobre a prostituição infantil).
Lá pelas tantas da noite sou interrompido por um “pingo de pessoa” todo de azul, cutucando o meu pé e, como quem quer puxar assunto, me diz com um sorriso do tamanho do mundo: “Oi”?
Aquele ser de pouco mais de um metro (pelo menos eu acho que ele tem mais de um metro), tira toda a minha atenção. Bom, ele foi até meu quarto pra conversar, então tudo que vê aponta como se fosse novidade para nós dois: cortina, quadros, barata morta, fotos (sim, havia uma barata recém ‘defunta’ no canto do quarto), meu tênis, exatamente tudo. Não satisfeito, meu filhote resolve subir na cama, nessas alturas já parei de ler faz muito tempo, e não me lembro mais nem em que página estou.

Ele parou o meu planeta!

Como uma coisinha tão pequena muda a rotina de jornalistas, médicos, doutores, professores e donas de casa. Não nos damos conta de que toda a nossa correria é para melhorar o “mundo” ou pelo menos a nossa rua, para que outras pessoas usufruam de um lugar melhor para se viver (por que a gente dificilmente consegue). Onde se possa apontar para as coisas, e tudo ser motivo para um bom diálogo, sem receios ou banalidades, um lugar quase perfeito, não fosse pela barata morta no canto do quarto – é o jogo da vida.
Pois bem, quando ele se cansou, saiu sozinho da cama e voltou para os braços da mãe, então reencontrei a página que havia parado e sai do meu mundo, e voltei, para uma realidade gritante e assustadora. Um Brasil negro e real, de meninas perdidas na prostituição na região Amazônica.

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